Uma palavra pode construir uma pessoa, ou pode "danificar" suas estruturas humanas. Uma palavra... Certamente pode ser usada para o bem ou para o mal, dependendo do contexto. Uma palavra que tenho grande apreço é a palavra Compaixão.
Compaixão... Por vezes excluída de nosso vocabulário de convivência! Gosto de pronunciá-la, mas custa-me "ruminá-la" de tão forte que ela é!
Nesse final cronológico de ano, somos convidados a fazer uma avaliação de nossos atos e nada mais significativo de o fazê-lo tomando como ponto de partida a "com-paixão". Pois é, "com" significando que não estamos sozinhos. "Com" faz lembrar algo composto, não isolado, constante e presente e, no complemento que ora trás nossa reflexão, "com" tem relevância de "paixão". Nada em nossa vida - quando se cultiva o amor ao próximo - pode ser realizado sem verdadeira "paixão".
Nos escritos bíblicos nos deparamos com muitas cenas de verdadeira "compaixão". Como não lembrar da mulher quase apedrejada pelos "puros", condenando-a à morte por suposto adultério, levada a Jesus e Ele em ação de "com"-"paixão", a torna livre do pecado, acolhendo-a e a conduzindo ao caminho da resignificação de sua vida, vida nova? E, na parábola do Pai Misericordioso, o que não dizer do filho que vai embora, afasta-se do pai e, ao perder tudo, "cai em si", reflete e volta pra casa com o intuito de ser um dos empregados do pai e, o pai ao avistá-lo, o abraça com amor e o acolhe com compaixão e manda fazer aquela festa para seu filho que estava perdido foi encontrado?!
Sem dúvida a palavra "compaixão" é uma atitude e não um termo a ser usado em livros sobre o perdão de Deus e o perdão ao próximo. Ou mesmo um termo que codifica as regras e as normas de um grupo, apenas para constar! Trata-se de um caminho - diria único caminho! - para o recomeço de uma nova etapa da vida, de nossa vida em grupo, em comunidade e em sociedade.
Somos tentados em nosso presente e, claro, nesse ciclo de mudanças de tempos, a remoer situações decepcionantes de nossa vida, a mantermos nossos projetos engavetados e consequentemente nos embebedarmos à "amargura hiperbólica", conduzindo nosso ser à decadência de nossa existência e com isso levamos ao fundo do abismo a nós mesmos e os outros que um dia feriram nossa alma; caímos na tentação de querer vingar a dor sofrida e prejudicar aos mais fracos que nós, desmistificando, assim, o verdadeiro significado de "compaixão".
O "kronós" grego pode nos envelhecer, mas o "kairós" de Deus nos garante o poço da juventude que rejuvenesce nossa alma, nosso olhar sempre aberto à esperança de dias melhores. Olhar para frente, agir com compaixão, levantar-se e seguir em frente! Essa é o escatológico que acreditamos, pois nem tudo na vida são flores e nos esquecemos que, quando recebemos flores, esquecemos que nelas há espinhos, justamente para entender o que é realmente a construção da vida.
certamente queremos um ano novo melhor do que o que está terminando. Antropologicamente é significativo nos abraçarmos, desejar uns aos outros a paz, o amor, a esperança, a prosperidade,... Mas, é significativamente importante o perdão a nós mesmos, o pedir perdão aos que ofendemos e dar o perdão aos que nos ofenderam, pois esse ato é a profundidade de nosso agir com compaixão, de modo que sejamos melhores a cada ano que começa e nele os dias que nascem os quais significam a esperança de uma humanidade melhor para todos nós.