PARA O ANO NOVO: COMPAIXÃO

Uma palavra pode construir uma pessoa, ou pode "danificar" suas estruturas humanas. Uma palavra... Certamente pode ser usada para o bem ou para o mal, dependendo do contexto. Uma palavra que tenho grande apreço é a palavra Compaixão.
Compaixão... Por vezes excluída de nosso vocabulário de convivência! Gosto de pronunciá-la, mas custa-me "ruminá-la" de tão forte que ela é!
Nesse final cronológico de ano, somos convidados a fazer uma avaliação de nossos atos e nada mais significativo de o fazê-lo tomando como ponto de partida a "com-paixão". Pois é, "com" significando que não estamos sozinhos. "Com" faz lembrar algo composto, não isolado, constante e presente e, no complemento que ora trás nossa reflexão, "com" tem relevância de "paixão". Nada em nossa vida - quando se cultiva o amor ao próximo - pode ser realizado sem verdadeira "paixão".
Nos escritos bíblicos nos deparamos com muitas cenas de verdadeira "compaixão". Como não lembrar da mulher quase apedrejada pelos "puros", condenando-a à morte por suposto adultério, levada a Jesus e Ele em ação de "com"-"paixão", a torna livre do pecado, acolhendo-a e a conduzindo ao caminho da resignificação de sua vida, vida nova? E, na parábola do Pai Misericordioso, o que não dizer do filho que vai embora, afasta-se do pai e, ao perder tudo, "cai em si", reflete e volta pra casa com o intuito de ser um dos empregados do pai e, o pai ao avistá-lo, o abraça com amor e o acolhe com compaixão e manda fazer aquela festa para seu filho que estava perdido foi encontrado?!
Sem dúvida a palavra "compaixão" é uma atitude e não um termo a ser usado em livros sobre o perdão de Deus e o perdão ao próximo. Ou mesmo um termo que codifica as regras e as normas de um grupo, apenas para constar! Trata-se de um caminho - diria único caminho! - para o recomeço de uma nova etapa da vida, de nossa vida em grupo, em comunidade e em sociedade.
Somos tentados em nosso presente e, claro, nesse ciclo de mudanças de tempos, a remoer situações decepcionantes de nossa vida, a mantermos nossos projetos engavetados e consequentemente nos embebedarmos à "amargura hiperbólica", conduzindo nosso ser à decadência de nossa existência e com isso levamos ao fundo do abismo a nós mesmos e os outros que um dia feriram nossa alma; caímos na tentação de querer vingar a dor sofrida e prejudicar aos mais fracos que nós, desmistificando, assim, o verdadeiro significado de "compaixão".
O "kronós" grego pode nos envelhecer, mas o "kairós" de Deus nos garante o poço da juventude que rejuvenesce nossa alma, nosso olhar sempre aberto à esperança de dias melhores. Olhar para frente, agir com compaixão, levantar-se e seguir em frente! Essa é o escatológico que acreditamos, pois nem tudo na vida são flores e nos esquecemos que, quando recebemos flores, esquecemos que nelas há espinhos, justamente para entender o que é realmente a construção da vida.
certamente queremos um ano novo melhor do que o que está terminando. Antropologicamente é significativo nos abraçarmos, desejar uns aos outros a paz, o amor, a esperança, a prosperidade,... Mas, é significativamente importante o perdão a nós mesmos, o pedir perdão aos que ofendemos e dar o perdão aos que nos ofenderam, pois esse ato é a profundidade de nosso agir com compaixão, de modo que sejamos melhores a cada ano que começa e nele os dias que nascem os quais significam a esperança de uma humanidade melhor para todos nós.

CERTEZAS

Nas madrugadas da vida há de ouvir o som de si mesmo, perplexo - no silêncio externo - por ouvir-se, ver-se, sentir-se... Nem sempre a gente consegue entender a humanidade, porque custamos a entender a si mesmo!
Falta sono, falta pensar melhor sobre a sombra da vida, obscura por "falsas luzes" da própria vida. Ah! Se pudesse mexer no relógio do tempo e fazê-lo parar por alguns anos e poder ver cada milésimo de espaço de cada coisa que, certamente, prende a vida, deixando-a, quem sabe, de ser ela mesma em nós!
Falta coragem! Falta oportunidade? É, quem sabe se é isso! Falta dialogar com diversas facetas de pensamentos ditos, escritos, outorgados por seres humanos que, na exploração ao outro, acaba esquecendo de ver no Eu e no Tu as obrigações do cuidado, da certeza de que nos outros há vida, há o espetáculo da razão aflita pelo vazio do amor gratuito...
Na madrugada que ora escrevo tais pensamentos, falta-me a certeza de muitas coisas. Falta-me viver com dignidade... Falta-me ouvir a voz que diga: "Conto com você"... Falta a solidariedade na miséria humana de tantos!
Por que pensar sobre todas essas certezas? Aliás, certeza de vidas maltratadas, esquecidas e - quem sabe - totalmente abandonadas?! A coragem de seguir em frente sob o prazer de viver é, convictamente, o passo significativo sobre a vida! Não, não se trata de "sobre-viver", mas de ter, possuir dignamente o básico de cada dia. O que se pensa de "básico" é, senão, poeticamente - parafraseando os titãs: "A gente não quer só comida, a gente quer bebida, diversão e arte" e, completo: 'A gente quer dignidade, respeito e valores nessa sustentabilidade necessária plena da vida'.
Refletir sobre tantos elementos desses é, claro, desejar ao ser humano por inteiro o que é de básico em todos os sentidos. Sinto-me indignado quando o pão não é partilhado, quando o amor é abandonado, quando as pessoas são egoístas e só pensam no que lhes favorece! Utopicamente "a vida plena" desejada por Jesus Cristo caminha a passos lentos desde que fora proferida a mais de dois mil anos atrás! Mas, é sempre importante levar os pés pra frente e cada pisada sabermos da importância de lutar por direitos e dignidade para todos!
Sonhar não custa nada! Custa se organizar e formar opiniões - e grupos! - conscientes de sua missão de tornar o mundo mais humano e digno para todos e todas!

O QUE É A FILOSOFIA?

O que é a filosofia? A indagação é o seu método. Filosofia significa, literalmente, o amor pela sabedoria, e desde o início da sua longa história os filósofos perguntaram e tentaram responder a questões muito difíceis sobre os tópicos que pareciam os mais importantes para a humanidade, buscando, por isso mesmo, a sabedoria.

A filosofia é essa amizade à sabedoria que tem como busca o conhecimento que ora se encontra implícito nas diversas realidades da vida e – quando explicitamente revelado torna-se ciência, método empírico capaz de oferecer à vida elementos que constituem o saber, a felicidade, o bem-estar de todos. Por isso, o conhecimento parece importante, mesmo se não suficiente para a sabedoria, poder-se-ia perguntar que tipo de conhecimento o estudo da filosofia produz (...). A filosofia, em seu método indagador descobre a natureza essencial de várias coisas abstratas: verdade, conhecimento, pensamento, liberdade, dever, justiça, beleza e, inclusive, a própria realidade; em outras palavras os filósofos (aqueles que são os que refletem sobre o que é filosofia) descobrem o conteúdo ou a análise correta dos conceitos que usamos quando pensamos sobre a verdade, o conhecimento e a temas semelhantes – ou talvez, os significados das palavras correspondentes.

Enquanto método a filosofia – na busca pelo conhecimento – é analiticamente rigorosa. Por esse meio todo conhecimento conquistado no decorrer da história humana se tornou parte da filosofia e conseqüentemente saber científico. (...) Muitas áreas de investigação que começaram como partes da filosofia depois se tornaram ramificações da ciência. Isso acontece, aproximadamente, quando as questões envolvidas tornam-se definidas de modo suficientemente claro para tornar possível investigá-las em termos científicos, através de observação empírica e de teorização com base empírica. Assim, a filosofia pode ser identificada, ainda que um tanto indiretamente, como a origem daqueles temas que as pessoas ainda não aprenderam a investigar em termos científicos.

Tudo o que temos hoje em se tratando de conhecimento científico, da tecnologia vigente, assim como, das diversas formas do saber humano, sejam de cunho econômico, político e tecnocientífico, tiveram sua origem no pensar filosófico e será assim enquanto houver reflexão filosófica. Por isso, a filosofia é – em seu método – um bem para o conhecimento científico.

Dessa forma, é importante não deixar de fixar nosso olhar na história humana. É através da história que vemos o saber humano em evolução – ou não! -, pois o que somos enquanto civilização é resultado da história do saber que fora construída em séculos idos, sobretudo na parte ocidental de nosso planeta. Portanto, quase todos os filósofos concordam que a história da filosofia é importante para a própria natureza da filosofia e para a contínua investigação filosófica de um modo em que as outras histórias de outras disciplinas não são igualmente importantes para elas. É importante destacar que a história da humanidade e seus sistemas políticos foram (e são) elementos indispensáveis para o pensar filosófico. Nenhuma ciência está desligada dessa investigação científica que é a filosofia, embora cada epistemologia tenha seu próprio caminho de investigação e que cada uma especificamente use da filosofia para sua evolução em cada período histórico.

O filósofo norte-americano Wilfrid Sellars destacou tal importância elucidando que: “O objetivo da filosofia, formulado abstratamente, é entender como as coisas, no mais amplo sentido possível do termo, estão conectados no sentido mais amplo possível do termo. Sob ‘coisas no mais amplo sentido possível’, incluo itens radicalmente diferentes, como não só ‘repolhos e reis’, mas também números e deveres, possibilidades e estaladas de dedos, experiências estética e morte. Alcançar sucesso na filosofia seria, para usar um modo de expressão contemporâneo, ‘estar familiarizado com o entorno’, com respeito a todas essas coisas, não naquele modo irreflexivo no qual o centípoda da história tinha familiaridade com o seu entorno antes que encarasse a questão ‘como eu caminho? ’, mas naquele modo reflexivo que significa que nenhum apoio intelectual está barrado.”.

Tal reflexão apresentada pelo filósofo norte-americano Wilfrid Sellars sugere, assim, que nada está realmente além da competência da filosofia. Colocando esse ponto de uma maneira apenas, levemente diferente, a filosofia busca entender, de um modo plenamente reflexivo, de que maneira tudo está relacionado a e conectado com, porém diferente de tudo o mais.

A partir desse ponto de vista toda forma do pensar filosófico exige verdadeiramente uma visão ampla e sistemática das coisas. Não se estuda filosofia procurando ler um determinado pensador e fazer dele a única maneira de refletir filosoficamente. Mas, é procurando explorar os diferentes conceitos ligados à ciência que se pode abrir o leque das diferentes visões acerca da filosofia. O que os filósofos fizeram foi, se não, provocar tal elucidação. Assim, conforme nosso texto em estudo, uma das atividades filosóficas centrais, refletida na tentativa de entender a natureza essencial das coisas (ou dos conceitos), é a clarificação, ou seja, os filósofos estão constantemente levantando questões sobre o que vários tipos de coisas realmente vêm a ser (ou o que as palavras em questão realmente significam).

Começamos nossa reflexão indagando o que é a filosofia. São as perguntas que dão sentido e significado ao que se busca nesse método filosófico. Nenhum campo científico ficou isento da reflexão filosófica, pois dela nasceram às diferentes formas de ver a realidade das coisas, dessas formas nasceram as diferentes ciências. Segundo o filósofo Aristóteles “a vida sem reflexão não é digna de viver”, em outras palavras quer nos ensinar que a tudo o que norteia a vida humana passa pela sistemática indagação filosófica.

Para alguns de nós esse pensar filosófico é algo desprezível e sem sentido, tratando-se apenas como jogo mental irrelevante, sem importância. A filosofia é, em todas as medidas da vida humana, algo que completa nossa existência, pois foi a partir das perguntas organizadas que ora configurou o que somos hoje. Bertrand Russell argumenta que o estudo e a prática da filosofia são essenciais ao melhor tipo de vida, pois é algo valioso por aquilo que se investiga para o melhor de nossa vida. Dessa forma, a pergunta o que é a filosofia trás consigo respostas que produzem outras perguntas em vista de relevantes argumentações em prol do conhecimento humano.

CIDADE: NOSSA CASA, NOSSO CHÃO, NOSSO PÃO

A floresta, o folclore, a música, a dança, o som... As expressões! Assim vejo a metrópole aonde vivo. Aliás, sobrevivo! Até porque - parece não ser - se ver, se escuta, se canta, se dança de muitas formas dentro dessa linguagem que chamamos "cidade".
Por alguns ângulos percebo o quanto é possível olhar a grande Belém de uma forma diferente, desconsiderando os sons que fluem tão exacerbadamente em conseqüência da agitação do trânsito, do corre-corre das pessoas, das preocupações e dos medos... E de tantas e infinitas formas do soar da cidade vítima - claro - do crescimento populacional!
Olho Belém com o olhar de quem só vê a paisagem de um vilarejo com suas ruas enfeitadas pelas mangueiras que dão frutos duas vezes ao ano nas duas únicas estações: "Pouca chuva e Chuva"; ouço o som dos insistentes periquitos da praça da Basílica todos os dias às seis, voltando para seus ninhos, felizes depois de um dia cheio; contemplo nesse vilarejo de mais de trezentos anos a arquitetura lusa da cidade velha misturada com o pôr-do-sol mais bonito do mundo às margens da Baía do Guajará de baixo da mangueira que fica atrás da casa das onze janelas e - se der tempo - ainda tomo um tacacá para "refrescar" a vontade do gosto tão famoso de séculos idos!
Daí, pois bem! A Belém que a gente gosta de ver, de ouvir, de sentir e de contemplar: A cidade que é o nosso chão! Que pena que poucos cultivam tão maravilhosa "Belémza".
Mas, mesmo que quase abandonada, nossa cidade pode ser a melhor do mundo se a considerarmos verdadeiramente como a nossa Oca, nossa Casa, "Nosso Pão", cuidando - claro - para que nunca possa morrer a visão desse ângulo que ora cultivamos no amor que sentimos por essa cultura impregnada em nossa alma, por essa Cidade que é, também, a alma de nossas vidas, a Belém que queremos, valorizando o que temos e preservando o que construímos.
Olho a Cidade com essa visão diferente... E se todos os que moram aqui puderem desviar sua atenção para o que ela nos oferece de bem, certamente todos os meios poluentes que possuímos teriam um lugar com o mínimo destaque e assim diríamos aos nossos filhos: Amem a Cidade que te cuida! Cuide da Cidade que você aprende a amar todos os dias!

CAOS DE NOSSA CIVILIZAÇÃO

Hoje parei um pouco para refletir sobre a humanidade e suas conquistas e me deparei com o seguinte quadro: vivemos o caos dos valores e a crise de identidade enquanto grupo de pessoas, de pessoas que deveriam se relacionar melhor num tempo em que a facilidade de comunicação é dez vezes maior que tempos idos.
A história de nossa humanidade é marcada fundamentalmente por povos conquistando povos, a lei do mais forte vigora desde a pré-história até a contemporaneidade. Por outro lado, entretanto, alguns homens dessa humanidade procuraram caminhos alternativos, estes - por sinal - deram à humanidade um rosto diferente: estudaram, refletiram, escreveram, inventaram, descobriram, deram à "conquista" de fato do Homem meios para viver bem e melhor.
Além desse "viver bem e melhor" é importante frisar que "o joio" que fere toda essa conquista chama-se sistema econômico. O atual - o capitalista - promove uma guerra silenciosa: a guerra do sistema econômico do mais forte: a do lucro, alimentada, sobretudo pelo poder. As pessoas se reduziram ao que "têm" e não ao que "são". "Sou, existo, porque tenho", descaracterizando a rica frase da modernidade: "Cogito ergo sum".
A conquista da modernidade ferida pela chamada "pós-modernidade" encontra-se hoje marcada pelo consumo exacerbado de "coisas" que tornam as pessoas de todas as etnias, povos e nações em objetos de consumo! É bem verdade que os povos dessa humanidade contemporânea vive de forma melhor que o da idade média, porém é questionável esse "viver melhor" quando a má distribuição de riquezas - pela consciência de globalização - seja uma realidade verdadeira, pois como se diz: se tudo o que é de conquista hoje, seja de todos - como bem reza a ONU.
O que vemos a olho nu: internet, TV HD Digital, Ipod, etc... Nos faz perceber o quanto estamos distantes - ainda mais - uns dos outros! As instituições mais antigas, a família, a Igreja entre outros grupos vivem essa crise de valores fragmentados cada vez mais. O personalismo - ou diria o "lideralismo" - tão presente em tempos passados na história da humanidade deu lugar ao "individualismo": ninguém quer ouvir ninguém, "alguém não precisa de ninguém", ou ainda a frase célebre de nosso tempo: "A vida é minha! O corpo é meu", configuram toda essa crise institucional.
Minhas reflexões não param... Mas, de repente elas podem parar quando também me tornar objeto barato de consumos das idéias já prontas: filosofia pronta, história pronta,... Só a morte para silenciar a voz de quem grita por dentro diante do caos de nossa civilização!

BENÉVOLA SOLIDÃO

O que é a solidão? Pensando bem, ela não é aquilo que nos deixa só, pois nos acompanha na vida. A companheira das horas sozinhos. É, mas dentro dela as lembranças de outrora, uma coisa ali que lembra algo, outra acolá que nos faz refletir...
Talvez na vida de milhões de seres humanos ela seja a única confidente das horas que passamos sozinhos. Acredito que dentro de cada pessoa exista um parentesco comum com a "tal solidão". Com ela nos inebriamos com os pensamentos vil, pois nela depositamos o que no profundo da existência somos.
Por que falar da solidão tão solitário? Parece incoerente tal premissa! Mas, vejamos só, dentro de cada espaço existe uma ideia que perpassa nossa vida. Tal ideia se configura à solidão, mesmo estando com outras pessoas conversamos com o silêncio de nossa razão, analisando, escrevendo, ou simplesmente olhando no horizonte de uma paisagem algo incomum à vida, tudo isso pode-se dizer faz pensar e viver a solidão, daí, portanto, "solitários".
Os grandes Homens da história só se tornaram "grandes", porque experimentaram a solidão. Os grandes escritores só se tornaram "ouvidos" porque nas horas da escrita estavam a sós, solitários.
Então, diria, que ser solidão e solitário é um Bem a cada pessoa. O que não é Bom é transformar essa solidão em desolação, em egocentrismo, em dizer para si e para os outros: "Eu não preciso de ninguém, "eu" me basto! Assim, estaremos sendo "falsos" solitários na solidão benévola que a vida precisa.
Hoje, nessa solidão benévola de meu quarto, escrevo palavras que refletem a construção da própria vida, a busca da coerência e da lúcida certeza que tudo o que se vive, nos momentos altos e baixos, nas luzes e sombras, a esperança do recomeço faz Luz no caminho.


RESIGNIFICAR A VONTADE

Na mais tenra Vontade, somos tentados a buscar as coisas mais significativas para a nossa vida. Esta tentação é válida à medida que tais coisas sejam para a nossa felicidade e a dos/as que fazem parte de nossa vida.
A Vontade é um artifício humano que nos faz entender os sonhos, as aptidões e as certezas de alguma coisa em nossa vida. Não é diferente sempre encontrarmos pessoas que são, em síntese, essencialmente pessoas com Vontade Com "V" maiúsculo! Sem medir esforços delineiam a própria estrutura humana, costuram a vida com as linhas da Vontade de sempre reestruturar seus sonhos e suas aptidões à felicidade.
Se cada pessoa começasse a escrever a própria história, a palavra Vontade seria uma das mais usadas. Olhando a história da humanidade tal palavra foi um instrumento para construir (ou destruir) projetos que dignificasse a pessoa e sua felicidade. Muitos meios foram - e são - usados para fazer o que se sonha.
Muitos de nós somos seres que exigem verdadeiramente uma sociedade melhor. A Vontade de torná-la tal depende muito de como fazer para realizar tal utopia. Para isso entraríamos no campo da organização social que, pelo que se vê, está cada vez mais em desuso.
Mas nem tudo é insignificante. Na verdade precisamos "resignificar a nossa Vontade". Numa proposta: Revalorizar nossa utopia. Sonhar para buscar - pela nossa Vontade - o que desejamos, o que queremos, o que ansiamos para a nossa vida ser melhor. Toda Vontade humana é profundamente racional recheada de emoções frutuosas para o bem comum.

VONTADE, LIBERDADE E INTELIGÊNCIA: INATAS A NÓS

Quando iniciamos uma nova etapa na vida, redescobrimos um novo sentido para ela. Eu diria que redescobrimos um novo modo de caminhar, pois a vida tem a capacidade de adaptar-se ao estilo que norteamos o caminho. Daí, pois, um novo sentido dela se faz.
Na vida, em suas etapas, somos conduzidos pela nossa vontade. Vontade que se motiva pela liberdade e que se constitui - com ampla certeza - pela inteligência que temos. Nada pode passar sem antes experimentarmos as três qualidades inatas a todo ser humano: vontade, liberdade e inteligência. Qualidades que abrem os horizontes de nossa consciência e que nos faz Ser.
Quantas vezes somos tentados a agir indiferentes a essas qualidades! Somos deveras vezes hauridos pela poderosa força emocional que - muitas vezes - nos cega diante da coerência. Em nossas dimensões humanas, temos que ter equilíbrio psíquico diante das grandes decisões que proporcionarão em nossas vidas mudanças a "longo prazo".
Nós seres humanos, pela nossa natureza, somos coagidos pela capacidade de mudanças. Nos adaptamos a qualquer ambiente e a qualquer circunstâncias. Ninguém, por maior ou menor que se ache, saberá encontrar um lugar para si e para a sua felicidade.
Nas grandes catástrofes naturais a pessoa que a sofreu - mesmo perdendo tudo - mas, mantendo-se vivo, encontra alternativas que o motiva a lutar pela sua subsistência. No mundo do trabalho é assim, nas relações com o outro é assim, nas mais diversas situações o ser humano consegue encontrar seu "ninho", como diziam e nos ensinaram os gregos: encontra seu "oikós", sua casa, sua morada. Somos assim: vontade, liberdade e inteligência.


IDÉIAS E PENSAMENTOS I

Pensar... Refletir. As idéias fluem. As primeiras civilizações começaram a construir suas obras com "idéias e pensamentos". Fomentaram a participação, imbuídos da certeza de que tudo o que estavam fazendo, tudo era o começo de uma nova era.
Nenhum ser humano está excluído da reflexão. Somos "sapiens". O mistério da vida humana está guardado em sua alma. O que nos move, o que nos sustenta, o que nos conduz, é a certeza da razão e da reflexão em torno de tudo o que nos faz ser. E o que nos faz Ser (ontos) é o senso de existir para algo que nos realiza a cada descoberta.
Ser no Ser! Quantas reflexões filosóficas foram provocadas na história do pensamento humano. O que não dizer de Aristóteles, de Descartes, Kant e tantos outros?
Certamente esses homens ajudaram a construir o pensamento humano com idéias profundas e análises formidáveis. Eles, entre tantos outros, fomentaram a ciência e a política, a economia e a arte, a ética e a cultura; desenvolveram as aptidões humanas para o comportamento são e a deixaram mais enriquecida, sobretudo na idade moderna.
Infelizmente hoje somos vítimas do "esvaziamento da razão" e conseqüentemente o empobrecimento das reflexões em torno do Ser em todas as suas dimensões. O ser humano contemporâneo está a serviço da alta-tecnologia, seduzido pela facilidade do consumo que as grandes empresas produzem. E trata-se de consumo exagerado e, em virtude de tudo isso, o ser humano bitola-se ao que tem e esquece-se de olhar-se, olhar outros horizontes, descobrir a riqueza e o valor da própria existência e de suas relações saudáveis, seja com os outros, seja com a própria natureza.
Pensamentos e idéias são fruto de nossa razão. O ser humano hoje precisa redescobrir a própria razão e o fascínio de refletir para agir num mundo aonde o prazer tomou outro sentido, aonde a ética se transformou em mercadoria, aonde o sentido do Ser é vazio e mesquinho, sem valor: mediocridade da "alta-modernidade" - conceito ainda em reflexão.

CAMINHO CERTO DA FELICIDADE

Caminhar... É um sentido. Muitos caminham sem rumo, sem sonho... Sem o sentido da vida. Quem projeta objetivos, forma o sentido do caminho. Muitos caminham para rumos idealizados. Alguns sentem a dor do caminho projetado. Muitos querem caminhar. Alguns chegam aonde sonharam chegar.
Caminhar é a cadência do ritmo da vida de cada um. Mas, caminhar sozinho ninguém chega a lugar nenhum. Nessa alegoria da caminhada, levamos a vida e muitas vidas em nós mesmos. Mas, quem não se cansa de sonhar, nunca cansará de caminhar, pois o caminho é a vida, é a história pessoal de cada um.
Num constante devir, a história de cada caminhada é o percurso do peregrino rumo aos seus sonhos. Como seria bom que todo humano sonhasse para caminhar com esperança.
Eu e você temos sonhos. Temos um caminho. Rumamos para algo que realizará nossa vida e faremos a nossa história. Nossos filhos precisam ler nossa vida pela experiência de lutas constantes que fizemos. Nosso livro escrito na vida é a resposta que temos que dar aos que nos viram buscar um caminho que se faz para a felicidade.
A vida de quem luta com honestidade e faz de sua vida um caminho constante à felicidade, na simplicidade e coerência de vida, será - certamente - uma pessoa de bom senso. Caminhe certo da felicidade!

A PESSOA HUMANA E OS "TRAUMAS"

Muitos de nós somos surpreendidos por "traumas". O que é um trauma? Segundo o dicionário trata-se de algo provocado por um meio violento que afeta um determinado órgão do corpo humano. Diz-se, deveras, que uma pessoa sofreu "traumatismo craniano" conseqüência de uma violenta batida, seja de acidente auto-motivo, ou um outro tipo de acidente.
Na psicologia um "trauma" ocorre quando a pessoa sofre uma decepção, a perda de alguém especial, desencontros e desentendimentos, enfim, situações que causam na pessoa uma mudança de comportamento e conseqüentemente afeta a própria coerência, a própria capacidade de raciocínio e os afetos se tornam - em certo sentido - "vulneráveis".
Acredito que as sociedades humanas sofrem com esse tipo de problema. Não sou psicólogo, mas estudei um pouco de cada realidade humana e a leitura que faço - de uma forma ampla - é de que o ser humano é vítima de muitos traumas, causados, certamente, por situações que envolvem o aspecto social - de convivência -, o aspecto afetivo - das relações de convivência - e econômico - do produto acima do humano -. Existe, creio, um complexo contexto humano, em tempos atuais, que cega nossa razão e nossa consciência.
Algumas vezes, quem sabe, não conseguimos organizar nossa relação conosco mesmos e acabamos construindo cercas elétricas, muros, delimitando o espaço necessário para a boa convivência. Temos medo do outro e desconfiamos da capacidade que temos de saber nos relacionar com o diferente. Os traumas psicológicos, acredito, são resultados de nossa má fé e de nossa angústia em relação ao outro. Decepções são reais e sempre existirão. Bom será quando soubermos aprender com os nossos erros e com os erros dos outros, quando soubermos conviver com nossas limitações e, ao invés de construirmos muros com cercas elétricas, saibamos construir pontes de perdão, reconciliação e amor.
Um psicólogo certamente saberá definir com maior exatidão o que é um trauma. Mas, uma coisa é certa: os traumas crônicos, isto é, aqueles que fazem sofrer cada vez mais uma pessoa que não consegue ser feliz e não consegue sair de si mesma e ir ao encontro da receita certa da felicidade, só serão realmente destruídos quando formos solidários com essas pessoas e a humanidade - ao invés de construir armas - souber "construir a pessoa humana" em sua integridade, formando-a para o bem e a felicidade.