Ouvir o canto da chuva no mês de outubro, nas tardes de Belém, é soar no coração a lembrança de muitos outubros. Quantas pessoas gostam de ouvir, olhar, sentir a chuva de Belém! Lembro-me, quando menino, de aproveitar a chuva da tarde para - como os demais garotos - tomar aquele banho no "toró" que caía e depois, enxuto e feliz, tomar o café no fim da tarde com deliciosa tapioca.
As tarde de chuva em Belém, no Pará, deveria se tornar patrimônio público tombado! Mas, para isso como seria importante o cultivo e a preservação das matas, das árvores, dos rios, dos igarapés... Nossa consciência ecológica quase não existe! É triste ver rios morrendo! Ver igarapés se transformarem em lagos rudes e sem vida. Ver ao invés de vitórias régias, sacos de lixo entupindo nossas nascentes.
A escassez de alguns frutos típicos da Amazônia revela a destruição e a injusta patente das multinacionais que levam pra fora daqui nossos tesouros tão comuns em nossas mesas, especialmente dos caboclos do interior. Um dia fui comprar um litro de açaí em uma das - quase! - raras casas de bater açaí e fiquei estupefato com o preço de algo que antes era de tão pouco valor, agora privilégio de poucos. E ver ainda, nas feiras das ruas e pedir aquela farinha torrada que vem de Bragança e também se assustar com o preço do litro da mais tenra cultura culinária de nossas mesas. Ver tudo isso é compreender que a Amazônia de tempos idos está "morrendo" às nossas vistas.
Ainda hoje sinto falta de tomar banho na chuva da tarde, mas mais saudade ainda tenho das coisas comuns que se tornaram incomuns em nossas casas. O paraense, assim como todo amazônida, precisamos formar nossa consciência. A cabanagem é nossa inspiração! Valorizar o que temos é cuidar de nossa casa, arrumar bem direitinho e saber que - num futuro promissor - nossos curumins (meninos), nossas cunhãs (meninas moças), poderão usufruir de tão grande dádiva. Que a Virgem de Nazaré seja nossa "nazinha" de todos os dias, amém! Para que a "sua Amazônia" seja patrimônio e não quintal dos que só querem explorar, destruir e nos roubar.